segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Resenha do livro "Maestro" - Roger Nierenberg


Mais uma vez venho a escrever em âmbito conceitual e convido o leitor a exercitar um pouco o poder de abstração e não se deter ao conteúdo aparente técnico apresentado. Tendo mais de 5 anos experiência em liderança de equipe e canto coral operístico (repertório sinfônico) e mais de 10 em coral e TI, queria falar um pouco sobre o funcionamento de uma orquestra e o papel do leu líder, o tão falado Maestro. Vejam os senhores o quanto são capazes de reconhecer a relação entre estas duas áreas através deste elo de ligação, que será a liderança.

Quando ouvimos uma música orquestral, temos aproximadamente 14 atividades diferentes sendo executada simultaneamente. Cada uma delas é tocada por equipes de pessoas, que falam “a mesma língua”. Estas pessoas estão sentadas em pontos específicos da orquestra, logo ouvem um som diferente do todo. Os instrumentos com mais volume, principalmente, ouvirão muito pouco dos outros instrumentos enquanto estão tocando, embora devam de esforçar para fazê-lo. Como um grupo com esta composição pode se manter síncrono para manter viva a música, que depende tanto desta sincroniza e equalização dos diferentes conjuntos?

Com o aumento das orquestras no século XX, ficou cada vez mais difícil manter todo esse pessoal alinhado e foi aí que ganhou força a figura do líder, ou Maestro. Um maestro lembra alguém de cabelos brancos que ouve tudo e corrige a todos, para que toquem exatamente da maneira que determinar sua batuta. Mas será este realmente o papel dele? Será que essa é uma visão apurada de liderança?

O livro “Maestro” adentra no fascinante mundo da música sob os olhos de um executivo, que do assunto entende muito pouco. Alguns fatos interessantes acontecem durante os ensaios e outros eventos. Vejamos o quanto consigo ilustrar alguns deles:



  • “Sigam o oboé, eles lhe dirá o que fazer” – Definição de um ponto referencial, incentivando o trabalho em equipe, visando mais colaboração e menos obediência bitolada. O intuito também é incentivar que cada um não se concentre apenas na sua parte.
  • “O clima nessa obra é de mistério, algo obscuro. Notem como o compositor escreveu para o clarinete e mesma melodia que para os outros instrumentos, porém uma oitava abaixo. Este é o som que vai dar à música este clima pretendido. Vamos repetir e agora quero que todos ouçam o clarinete” – Ao invés de corrigir cada grupo de instrumentos, ele comunicou a diretriz principal e deixou com que cada um usasse seu ouvido e criatividade para achar uma solução. Esta liberdade incentiva que as pessoas pensem, faz com que se sintam donos do negócio. Consequentemente, sentir-se mais capaz gera a tão falada auto-motivação.
  • “Violinos, ouçam esta frase que começa nos cellos, passa para violas e violinos e culminam no si bemol. A frase é uma só e, além de fazê-la parecer única, precisamos concentrar nossa energia em fazer este legato de forma a ressaltar aquilo que realmente importa, que é esta nota.” – Além da visão global da obra, ele incentiva também esta noção de fluxo. Além de corrigir nota por nota, dá uma noção da frase e deixa com que os próprios músicos decidam como devem se ajustar e o que devem corrigir.
  • Todos os lugares da orquestra possuem ouvem um som diferente. O maestro é o único que está em um lugar privilegiado, para onde todos os instrumentos estão direcionados e consegue ouvi-los de forma mais uniforme. Ele incentiva que os músicos ouçam o todo, mas não pode esperar ouçam da mesma forma que ele ouve. Transmitir essa visão global é o seu papel de líder.
  • Ao subir ao pódio, demonstrar autoridade não deve ser uma preocupação, ser a fonte de força/energia tão pouco. A própria posição do pódio e a batuta já propiciam que os movimentos de tornem visíveis. Gerar a força e energia é função dos músicos. A função do maestro é direcionar esta força.
  • Reagir aos eventos que ocorrem  apenas não é liderar, é torcer junto. O maestro deve se preocupar com o que vai ser tocado, não apenas com o que está sendo. Viver no futuro é uma de suas atribuições de liderança.


Estas são algumas das ideias abordadas neste livro fantástico que, em 126 páginas, consegue demonstrar de forma prática todos estes conceitos que, em grande parte, já lemos em diversos lugares. Ele dá, porém, uma ideia de como isso de conecta com a prática e faz um link com sentimentos humanos do líder e dos liderados. É uma leitura fácil como um passa tempo e de valor inestimável a quem aprecia o assunto “liderança”. Embora o título seja “Maestro”, as questões musicais são adjacentes, instrumentais e navegar por estes temas através deste veículo foi com certeza uma das experiências mais fascinantes que já tive.

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